
...pois então, segue uma pequena contribuição nossa a partir da leitura de um texto de Dario Fo sobre o oficio do ator...cabe aqui uma reflexão, sobretudo para aqueles que se submetem ao poder estabelecido a espera de reconhecimento, prestigio, lucro (status)..."submissão não é sinal de humildade, e sim fraqueza"
"O ATOR QUE MORRA!"
É necessário reconhecer que, embora algumas companhias inde¬pendentes gozassem de respeito e consideração, outras viviam e traba¬lhavam em completa submissão. Seus atores eram considerados proprie¬dade, inclusive física, de príncipes e senhores, estando sujeitos aos ca¬prichos dos mesmos, em situação semelhante à que existe atualmente entre jogadores de futebol e os seus respectivos clubes, mas sem nem mesmo fazer jus ao pagamento de luvas pela sua contratação. O trata-mento dispensado aos atores, em virtude das arbitrariedades possíveis na época, era ainda pior... Se o cômico cometia alguma falta, por menor que fosse, em relação a um compromisso qualquer, o duque Magnifico o trancafiava em uma cela por tempo indeterminado... e não tinha a menor consideração por sua vida.
Em relação a isso, é suficiente ler Tessari em um de seus textos sobre a Commedia: ao escutar comentários em louvor ao extraordinário talento de um idoso cômico da companhia de propriedade do duque de Mântua, o rei da Fiança deseja tê-lo consigo em Paris. Apesar de o ator estar gravemente doente, o duque exige que ele se levante do leito e dirija-se a Paris sem maiores delongas. O médico do palácio intervém, rogando pela clemência do duque: "O pobre homem está com a saúde muito abalada... É bastante provável que ele não consiga resistir à via¬gem". A resposta do Magnífico: "Prefiro correr o risco de vê-lo bater as botas, em vez de permitir que o rei dos franceses suspeite de que não lhe quis conceder um favor". Mesmo febril, o cômico tão desejado pelo rei é obrigado a partir... e, como o médico havia previsto, durante a travessia de São Bernardino, ele morre. A cortesia venceu! O rei da França ficará comovido pelo gesto de sublime sacrifício de seu generoso vassalo, o duque de Mântua. Obviamente, generoso à custa da vida de um ator.
(Dario Fo)
mas a gente pode rir...a gente pode rir...a gente pode rir!!!
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